sábado, 19 de dezembro de 2009

CONFISSÃO EM PÚBLICO É ISSO!

Posted by toninhokalunga On sábado, dezembro 19, 2009

Padre absolve pecados na rua


Publicado no Jornal da Tarde de 19.12.2009


Grupo de sacerdotes montou confessionário em pleno centro de São Paulo para ouvir fiéis

Fábio Mazzitelli, fabio.mazzitelli@grupoestado.com.br

De batina, padre Roberto Ostheimei absolve a autônoma Daniela dos Anjos de seus pecados na Praça do Patriarca: experiência natalina no centro

O maior pecado declarado do copeiro Edson Isidoro, de 48 anos, é a ira da cunhada que mora sob o mesmo teto. Ontem à tarde, ao passear sozinho pela região central da capital, parou na Praça do Patriarca e encontrou o que buscava: um ombro amigo para desabafar. No caso, um ombro coberto pela batina do padre Roberto Ostheimel. Nos últimos dias, o sacerdote católico ouviu pacientemente revelações particulares em praça pública, bem longe do tradicional confessionário de madeira.

“A realidade de São Paulo é sempre muito corrida, você nunca tem tempo. Quando vi o padre na rua, resolvi parar aqui para ouvir a palavra dele”, explica Isidoro.

Padre Roberto faz parte de um grupo de sacerdotes e missionários católicos que há dez anos sai às ruas da região central da capital às vésperas do Natal para se aproximar das pessoas e propagar mensagens de paz e esperança. O confessionário em praça pública faz parte deste movimento, liderado pelo grupo católico jovem Aliança de Misericórdia, fundado no Brasil na virada do milênio.

“Muitas vezes, as pessoas veem o padre sentado na praça e não acreditam que é padre”, diz o seminarista Fernando Gonçalves, de 22 anos, um dos coordenadores dos grupos que nos últimos dias se espalharam pelo Centro. “É uma maneira criativa e reconciliadora para se viver um momento de renovação”, acredita.

Desempregado e pai de cinco filhos, um deles recém-nascido, o copeiro Isidoro gostou da proposta e sentiu que era a hora do desabafo ali, na rua mesmo. “Eu brigo muito com a minha cunhada, desejo que ela morra todo dia. Já nos causou muito transtorno, quero que Deus a liberte”, afirma, admitindo a própria ira e revelando o pecado alheio. “Ela tem inveja da irmã porque nunca se casou. Tem dia que até saio de casa para não vê-la e para evitar um mal maior.”

A autônoma Daniela dos Anjos, de 23 anos, também parou alguns minutos para obter a absolvição de seus pecados na praça. Para ela, é a soberba que mais a incomoda na competição diária.

“Você se acha superior ao outro e acaba tendo uma postura de querer ser melhor do que os outros. Assim, não amamos. Tem que ser melhor para os outros”, afirma.

Mais tímida, ela não viu problemas para se confessar ao ar livre, sob um singelo guarda-sol. “Lógico que a gente fala mais baixo. Mas é a mesma coisa. A gente busca orientação, não importa se no ambiente aberto ou fechado.”

Prestes a completar 80 anos, o padre Roberto diz ter gostado da experiência de dividir o espaço dos calçadões do centro com seus fiéis. “Estamos indo a eles.”