SEPARAR O JOIO DO TRIGO::“Radical é quem sonha com justiça para todos e luta para realizá-la; sectário é quem teme o novo e protege privilégios através do ódio e das mentiras.”

SEPARAR O JOIO DO TRIGO:

A Diferença Libertadora entre o Radical e o Sectário, uma análise da proposta de PAULO FREIRE, na Pedagogia do Oprimido.

Por Toninho Kalunga:

Vivemos tempos em que discursos raivosos, recheados de ódio e mentiras que confundem a cabeça do povo. A direita sectária e extremista usa a fé como arma de controle, disfarçando intolerância com aparência de pureza moral. É nesse cenário que Paulo Freire se levanta como farol, nos ensinando a distinguir entre radicalidade libertadora e sectarismo opressor.

“A radicalização é crítica, por isso libertadora.” (Paulo Freire)

O SECTARISMO: A FALSA CERTEZA QUE APRISIONA

O sectarismo é dogmático, irracional, inimigo do diálogo. Ele se alimenta do medo, rejeita a crítica e transforma o mundo real em uma caricatura fantasiosa. É o campo fértil das fake news, das teorias da conspiração e da demonização de tudo que é diferente.

Alguns exemplos práticos:

Medo de indígenas: espalham que eles querem “muita terra para não produzir”, mesmo que os críticos nem saibam onde vivem os povos originários.

Ataques a artistas e educadores: falam da Lei Rouanet e “ideologia de gênero” sem saber do que se trata.

Criação de inimigos imaginários: como o “comunismo”, usado como espantalho para assustar os pobres.

RADICALIDADE: IR À RAIZ PARA LIBERTAR

Ser radical é ir à raiz dos problemas. A palavra vem do latim radix — raiz. O radical não se contenta com a aparência das coisas, mas busca suas causas e se compromete com a transformação profunda.

“Ser radical é fazer a opção pelos pobres não como marketing, mas como ética de vida.”

Na pedagogia freiriana, na Teologia da Libertação e nas lutas populares, ser radical é sinônimo de esperança, diálogo e compromisso. O radical vive no meio do povo, constrói pontes e age com firmeza e ternura.

SECTÁRIO x RADICAL: A GRANDE DIFERENÇA.

Radicalidade e Sectarismo: Dois Caminhos Muito Diferentes comumente confundidos.

É comum ver, nos dias de hoje, pessoas confundirem radicalidade com sectarismo. Mas essas palavras representam posturas profundamente diferentes — e até opostas.

Enquanto o sectário se fecha numa bolha ideológica, movido por medo, fanatismo e intolerância, o radical mergulha na realidade concreta, com coragem, espírito crítico e amor ao povo.

Cinco pontos de como fazer para indentificar a diferença e a separar com clareza o joio do trigo

1. Visão de Mundo

Sectário: vê o mundo de forma maniqueísta, dividindo tudo entre “puros” e “inimigos”. Vive de teorias da conspiração, distorce fatos e fecha os olhos para a complexidade da vida.

Radical: busca compreender as raízes das injustiças. Reconhece que a realidade é complexa, diversa e que a transformação exige escuta, análise e compromisso.

2. Relação com o Povo

Sectário: impõe ideias sem diálogo. Vive apartado da realidade das pessoas, julga e exclui quem pensa diferente.

Radical: caminha com o povo. Entra nas casas, escuta as dores, sonha junto. Está enraizado na vida concreta das comunidades.

3. Atitude Política

Sectário: age movido pela intolerância e pelo desejo de poder. Valoriza a autoridade acima da ética e se associa a projetos autoritários.

Radical: defende a democracia popular. Luta por justiça social, participa da construção de políticas públicas e promove a participação cidadã.

4. Postura Religiosa

Sectário: usa a religião como instrumento de dominação. Fala de Deus com medo, culpa e condenação.

Radical: faz da fé um caminho de libertação. Enxerga o rosto de Deus nos pobres, nas vítimas, nos últimos. A fé radical é amor, ternura e compromisso com a justiça.

5. Prática na Vida

Sectário: vive para excluir, gritar, punir e dividir. Alimenta guerras culturais e ideológicas.

Radical: vive para acolher, unir e libertar. Sabe que a ternura e a firmeza caminham juntas na luta por um mundo novo.

Assim, podemos concluir que:

O sectário vive numa bolha. O radical vive com os pés no chão e o coração aberto.

O sectário grita e julga. O radical escuta e propõe.

O sectário quer o poder. O radical quer o povo livre.

Ser radical não é ser extremista. É ser coerente. Ser sectário é ser prisioneiro de si mesmo.

Como nos ensinou Paulo Freire:

“A radicalização é crítica, por isso libertadora.”.

A LUTA ATUAL: PRECISAMOS DE RADICALIDADE, NÃO DE SECTARISMO.

Contra o avanço da fome, do desemprego, do racismo, da destruição ambiental e do fascismo travestido de religião, só a radicalidade amorosa e transformadora será capaz de abrir novos horizontes.

O sectario idolatra o poder. O radical se enraíza na democracia. O sectário manda calar. O radical convida a falar. O sectário teme a diversidade. O radical vive nela.

“Não nos salvaremos a não ser juntos. Não nos libertaremos a não ser solidários.” 

Dom Pedro Casaldáliga

Conclusão: Pela Radicalidade do Amor

O tempo exige de nós uma postura clara:

Radical no amor, crítico na análise, firme na opção pelos pobres, aberto ao diálogo com quem constrói vida

Que sejamos radicais. Nunca sectários.

Toninho Kalunga

Cristão católico, militante popular, integrante do núcleo nacional da Rede Política e Religião – Teologia da Libertação, membro da Fraternidade Leiga Charles de Foucauld, atuante na Paróquia São Miguel Arcanjo com Pe. Júlio Lancellotti, e na Paróquia Santo Antônio da Granja Viana, junto ao Pequeno Cotolengo Dom Orione, em Cotia.