CONSELHOS PARA MILITANTES DE ESQUERDA
DEZ
CONSELHOS PARA O MILITANTE DE ESQUERDA
Divulgação
de: Silvério Sales de Barros – fevereiro de 2012.
1.
Mantenha viva a indignação.
Verifique periodicamente se
você é mesmo de esquerda. Adote o critério de Norberto Bobbio: a direita
considera a desigualdade social tão natural quanto a diferença entre o dia e
a noite. A esquerda encara-a como uma aberração a ser erradicada.
Cuidado: você pode estar
contaminado pelo vírus social-democrata, cujos principais sintomas são usar
métodos de direita para obter conquistas de esquerda e, em caso de conflito,
desagradar aos pequenos para não ficar mal com os grandes.
2.
A cabeça pensa onde os pés pisam.
Não dá para ser de esquerda
sem "sujar" os sapatos lá onde o povo vive, luta, sofre, alegra-se
e celebra suas crenças e vitórias. Teoria sem prática é fazer o jogo da
direita.
3.
Não se envergonhe de acreditar no socialismo.
O escândalo da Inquisição não
faz os cristãos abandonarem os valores e as propostas do Evangelho. Do mesmo
modo, o fracasso do socialismo no Leste europeu não deve induzi-lo a
descartar o socialismo do horizonte da história humana. O
capitalismo, vigente há 200 anos, fracassou para a maioria da população
mundial. Hoje, somos 6 bilhões de habitantes. Segundo o Banco Mundial, 2,8
bilhões sobrevivem com menos de US$ 2 por dia. E 1,2 bilhão, com menos de US$
1 por dia. A globalização da miséria só não é maior graças ao socialismo
chinês que, malgrado seus erros, assegura alimentação, saúde e educação a 1,2
bilhão de pessoas.
4.
Seja crítico sem perder a autocrítica.
Muitos militantes de esquerda
mudam de lado quando começam a catar piolho em cabeça de alfinete. Preteridos
do poder, tornam-se amargos e acusam os seus companheiros(as) de erros e
vacilações. Como diz Jesus, vêem o cisco do olho do outro, mas não o camelo
no próprio olho. Nem se engajam para melhorar as coisas. Ficam como meros
espectadores e juízes e, aos poucos, são cooptados pelo sistema. Autocrítica
não é só admitir os próprios erros. É admitir ser criticado pelos(as) companheiros(as).
5.
Saiba a diferença entre militante e "militonto".
"Militonto" é
aquele que se gaba de estar em tudo, participar de todos os eventos e
movimentos, atuar em todas as frentes. Sua linguagem é repleta de chavões e
os efeitos de sua ação são superficiais.
O militante aprofunda seus
vínculos com o povo, estuda, reflete, medita; qualifica-se numa determinada
forma e área de atuação ou atividade, valoriza os vínculos orgânicos e os
projetos comunitários.
6.
Seja rigoroso na ética da militância.
A esquerda age por princípios.
A direita, por interesses. Um militante de esquerda pode perder tudo – a
liberdade, o emprego, a vida. Menos a moral. Ao desmoralizar-se, desmoraliza
a causa que defende e encarna. Presta um inestimável serviço à direita.
Há pelegos disfarçados de
militante de esquerda. É o sujeito que se engaja visando, em primeiro lugar,
sua ascensão ao poder. Em nome de uma causa coletiva, busca primeiro seu
interesse pessoal.
O verdadeiro militante – Gandhi, Che Guevara – é um servidor, disposto a dar a própria vida
para que outros tenham vida. Não se sente humilhado por não estar no poder,
ou orgulhoso ao estar. Ele não se confunde com a função que ocupa.
7.
Alimente-se na tradição da esquerda.
É preciso oração para
cultivar a fé, carinho para nutrir o amor do casal, "voltar às
fontes" para manter acesa a mística da militância. Conheça a história da
esquerda, leia (auto)biografias, como o "Diário do Che na Bolívia",
e romances como "A Mãe", de Gorki, ou "As Vinhas de Ira",
de Steinbeck.
8.
Prefira o risco de errar com os pobres a ter a pretensão de acertar sem eles.
Conviver com os pobres não é
fácil. Primeiro, há a tendência de idealizá-los. Depois, descobre-se que
entre eles há os mesmos vícios encontrados nas demais classes sociais. Eles
não são melhores nem piores que os demais seres humanos. A diferença é que
são pobres, ou seja, pessoas privadas injusta e involuntariamente dos bens
essenciais à vida digna. Por isso, estamos ao lado deles. Por uma questão de
justiça. Um militante de esquerda jamais negocia os direitos dos pobres e
sabe aprender com eles.
9.
Defenda sempre o oprimido, ainda que aparentemente ele não tenha razão.
São tantos os sofrimentos dos
pobres do mundo que não se pode esperar deles atitudes que nem sempre
aparecem na vida daqueles que tiveram uma educação refinada.
Em todos os setores da
sociedade há corruptos e bandidos. A diferença é que, na elite, a corrupção
se faz com a proteção da lei e os bandidos são defendidos por mecanismos
econômicos sofisticados, que permitem que um especulador leve uma nação
inteira à penúria.
A vida é o dom maior de Deus.
A existência da pobreza clama aos céus. Não espere jamais ser compreendido
por quem favorece a opressão dos pobres.
10.
Faça da oração um antídoto contra a alienação.
Orar é deixar-se questionar
pelo Espírito de Deus. Muitas vezes deixamos de rezar para não ouvir o apelo
divino que exige a nossa conversão, isto é, a mudança de rumo na vida.
Falamos como militantes e vivemos como burgueses, acomodados ou na cômoda
posição de juízes de quem luta.
Orar é permitir que Deus
subverta a nossa existência, ensinando-nos a amar assim como Jesus amava,
libertadoramente.
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