SOLTEM BARRABÁS, MATEM JESUS!
ABRIR OS OLHOS PARA VER
Jesus é levado ao Palácio de Pilatos. Contraste
estranho! Jesus, um operário camponês do interior da Galiléia que só
pensava em servir aos outros, frente a Pilatos, um político romano que só
pensava em fazer carreira e que pouco se importava com a sorte do povo
judeu. Para ver-se livre do caso incômodo, Pilatos manipula as leis e
propõe soltar um preso, conforme um costume da época!
Ele esperava que o
povo fosse pedir a libertação de Jesus! Mas o povo, manipulado pelos
líderes, gritou: "Solte Barrabás! Condene Jesus!" O mesmo acontece hoje.
A propaganda dos meios de comunicação consegue manipular os fatos de
tal maneira que faz aparecer como defesa dos fracos e da paz aquilo que,
na realidade, não passa de terrorismo de Estado, e vice-versa.
SITUANDO
A narrativa da paixão segue um critério geográfico.
Marcos leva a gente pelos diferentes lugares por onde Jesus passou na
sua última viagem: Betânia (Mc 14,3-9), sala da Última Ceia (Mc
14,10-31), Horto das Oliveiras (Mc 14,32-52), palácio do sumo sacerdote
(Mc 14,53-72). E agora chegamos ao palácio de Pilatos (Mc 15,1-20). Esta
maneira de contar os fatos ajuda a gente a guardá-los melhor na
memória.
Nos anos 70, época em que Marcos escreveu, era ainda o
mesmo Império Romano que estava perseguindo os cristãos. Lendo e
meditando a condenação de Jesus, eles como que se olhavam num espelho e
se dispunham a completar, como dizia Paulo, na própria carne o que
faltava na paixão de Cristo, para assim, desde já, experimentar algo da
força da sua ressurreição que vence a morte.
COMENTANDO
1. Marcos 15,1: Jesus é levado perante o poder romano
O processo segue o seu rumo. Conforme as leis da
época, o sinédrio podia condenar alguém à morte, mas não tinha o direito
de executar a sentença. Precisava da licença do poder romano. Por isso,
as autoridades dos judeus decidiram levar Jesus até Pilatos, a fim de
conseguir a sua condenação.
2. Marcos 15,2-5: O interrogatório diante do tribunal romano
Diante do tribunal dos judeus, Jesus tinha sido
condenado por dois motivos religiosos: por ter dito que era o messias e
por ter falado contra o Templo (Mc 14,58.62). Aqui, diante do tribunal
romano, o motivo é outro. Eles apresentam Jesus como um messias
anti-romano que pretendia ser Rei dos judeus! É um motivo político, mais
fácil para se conseguir a condenação de Jesus. O poder romano era muito
sensível a qualquer tipo de rebelião popular. Pilatos pergunta: "Você é
o rei dos judeus?" Jesus responde: "É você que está dizendo!" Jesus não
assume nem nega. É como se dissesse: "É o que se diz por aí!" Pois
Jesus não era rei no sentido em que o entendiam Pilatos e os judeus.
Jesus é um rei diferente. Ele reina servindo!
Em seguida, Jesus se cala e não fala mais nada, nem
mesmo para se defender. Pilatos estranha. Ele não entende o silêncio,
mas o leitor entende: o silêncio revela que Jesus é o Messias Servo de
que falava o profeta Isaías: "Não abre a boca diante dos que o acusam"
(Is 53,7). Revela também a liberdade de Jesus e o seu total desacordo
com a manipulação da verdade. Revela a sua vitória sobre a morte.
3. Marcos 15,6-10: Pilatos manipula a lei em seu favor
Incomodado, Pilatos procura uma saída. Percebeu que
tinham entregado Jesus por inveja e raiva. Naquela época, havia um
costume, uma espécie de lei não escrita, de soltar um preso por ocasião
da Páscoa. Pilatos manipula este costume em seu favor e propõe uma
alternativa: Barrabás ou Jesus. "Barrabás estava preso junto com os
rebeldes que tinham cometido um assassinato na revolta". Pilatos
esperava que fossem pedir a libertação de Jesus. Enganou-se!
4. Marcos 15,11-15: Os chefes dos sacerdotes são mais espertos que Pilatos
Os chefes dos sacerdotes, por sua vez, manipulam
o povo presente ao ato e conseguem que todos gritem: "Solte Barrabás!
Cricifique Jesus!" Pilatos foi fraco. Não soube resistir, deu a sentença
final e Jesus foi condenado. Como entender que os sumos sacerdotes
tenham conseguido manipular o povo contra Jesus? Não convém esquecer que
Jesus era da Galiléia. Tinha estado poucas vezes em Jerusalém. O povo
da cidade eram empregados do Templo. Milhares de operários ganhavam lá o
seu salário. O Templo era o seu ganha-pão. Jesus tinha falado contra o
Templo, assim diziam, e tinha expulsado os vendedores. Por isso, era
relativamente fácil manipular a opinião pública contra Jesus.
5. Marcos 15,16-20: A reação dos soldados
Depois de condenado, Jesus é esbofeteado,
ridicularizado e cuspido no rosto. Aqui, novamente, aparece o Messias
Servo, anunciado por Isaías, que foi preso, cuspido no rosto e teve a
barba arrancada: "Ofereci as costas aos que me feriam e as faces aos que
me arrancavam a barba; não escondi o rosto aos que me afrontavam e me
cuspiam" (Is 50,6).
ALARGANDO
O poder romano na terra de Jesus
Este texto descreve o confronto de Jesus com o poder
romano. No ano 63 antes de Cristo, os romanos tinham invadido toda a
Palestina, que compreendia Galiléia no norte, Samaria no centro e Judéia
no sul. Inicialmente, os romanos foram bem acolhidos pelos judeus. Mas,
logo mostraram sua verdadeira face oprimindo e explorando o povo
através de tributos, impostos, taxas, dízimos e outros roubos
legalizados. Por isso, de 57 a 37 A.C., em apenas 20 anos, só na
Galiléia, estouraram seis revoltas dos camponeses contra a dominação
romana. O povo ia atrás de qualquer um que prometia libertá-lo do peso
dos romanos. As revoltas foram duramente reprimidas.
Quem ajuda os romanos na repressão ao povo revoltado,
foi um tal de Herodes, que, como pagamento pelos seus esforços, recebeu
dos romanos o título de rei sobre toda a Palestina e, de 37 a 4 A.C.,
governou sobre Galiléia, Samaria e Judéia. Para agradar aos romanos, ele
promovia a assim chamada Paz Romana. Esta paz trouxe certa estabilidade
econômica para o Império e para o próprio Herodes, mas para o povo
dominado da Palestina não era paz, e sim repressão brutal. Jesus nasceu
no final do governo deste Herodes. Herodes, chamado o Grande, é aquele
que matou as crianças de Belém (Mt 2,16).
OBS: Um frade chamado Dionísio Pequeno, do século VI,
calculou a data do nascimento de Jesus. Ele errou por uma pequena
margem de 5 ou 6 anos. Jesus nasceu 5 ou 6 anos antes da data calculada
pelo frade.
Depois da morte de Herodes, Arquelau, seu filho,
assumiu o governo sobre a Judéia. O irmão dele, Herodes Antipas, recebeu
o governo sobre a Galiléia. Arquelau era um homem cruel e incompetente.
Já na sua tomada de posse, no dia da Páscoa, reprimiu uma reivindicação
popular e matou 3 mil peregrinos na praça do templo em Jerusalém. A
matança fez explodir a revolta do povo, que, duramente reprimida,
provocou uma forte repressão romana. O governo de Arquelau sobre a
Judéia foi muito violento. Por isso, José e Maria, depois da fuga no
Egito, não quiseram voltar para Belém na Judéia e resolveram ir morar em
Nazaré na Galiléia, junto com o menino Jesus (Mt 2,22).
No ano 6 depois de Cristo, - Jesus tinha em torno de
10 anos - Arquelau foi deposto pelos romanos, que estavam insatisfeitos
com o mau rendimento do governo dele. Para terem um controle melhor da
situação, transformaram a Judéia numa província romana, cujo governador
ou procurador era nomeado diretamente pela autoridade central do
Império, com sede em Roma. Para poder reorganizar a administração e
atualizar o pagamento do tributo, decretaram um recenseamento, o que
provocou forte reação popular, inspirada pelo Zelo pela Lei. O Zelo
levava o povo a boicotar o censo e a não pagar o tributo. Era uma nova
forma de resistir contra o império, uma espécie de desobediência civil.
Neste período, Jesus crescia em sabedoria e idade diante de Deus e dos
homens, lá em Nazaré.
Assim, de 6 a 44 depois de Cristo, a Judéia era
governada por procuradores, representantes diretos do poder romano. A
maior parte dos procuradores romanos eram funcionários que não gostavam
dos judeus. A forte repressão e o desprezo deles pelo povo judeu fizeram
crescer o ódio anti-romano. Um deles, o senhor Pôncio Pilatos, governou
de 26 a 36 d.C. Foi ele que, a pedido da elite dos judeus, sancionou
com o seu poder a sentença de morte contra Jesus.
A residência dos procuradores ficava na cidade de
Cesaréia, no litoral. Somente quando havia alguma ameaça de manifestação
popular, por exemplo, na festa de Páscoa, eles se transferiam para
Jerusalém para poder controlar melhor a situação e reprimir qualquer
tentativa de revolta. É que, por ocasião da festa anual de Páscoa,
aumentava no povo a expectativa messiânica e milhares de romeiros se
concentravam ao redor do Templo. Por isso, nos dias em que Jesus foi
preso, Pilatos se encontrava em Jerusalém. Foi diante dele que Jesus
compareceu e por ele foi condenado à morte de Cruz.
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