SÃO OSCAR ROMERO, O MÁRTIR DOS POBRES
Luzes e sombras da beatificação de dom Romero
Como sempre, o Papa Francisco deu um passo à frente de todos nós.
Seus representantes, dom Vicenzo Paglia e o
cardeal Angelo Amato, deixaram muito
claro quem é dom Romeropara o Papa: “Com Romero, Jesus caminhava com
seu povo”, diziam-nos em seus comunicados. É o que disse então Ellacuría: “Com Romero, Deus passou por El
Salvador”.
A reportagem é de Daniel Barbero e Javi Baeza, publicada por Religión Digital, 25-05-2015. A
tradução é do Cepat.
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Fonte: http://goo.gl/QGRV7G
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Algo importante ocorreu nesta véspera dePentecostes: o reconhecimento do Espírito de Deus neste homem
humilde e simples, que “carregou sobre seus ombros toda a dor dos pobres”. “Sua
voz se difundiu por toda a terra e o sensus fidelium o venerou sempre como
Santo”.
“A beatificação de Dom Romero é uma festa
de gozo e fraternidade, é um dom doEspírito Santo à Igreja e ao povo salvadorenho”. “Romero é uma estrela
luminosa que se acende no firmamento espiritual da Igreja”. “Romero não é um
símbolo de divisão, mas, sim, de paz, de concórdia e fraternidade”.
Estas palavras, que os representantes doPapa nos diziam, contrastavam com os fatos que estávamos vendo: A Igreja Luterana, representada pelo
bispo salvadorenho Medardo Gómez e uma bispa
da Igreja Luterana de Nicarágua,
assim como várias pastoras e pastores luteranos estavam isolados em um espaço
da igreja São José da Montanha, de onde sairíamos em procissão até a Praça de
El Salvador do Mundo, onde seria a grande celebração.
“O Papa precisou nos
convidar diretamente, porque a hierarquia da Igreja salvadorenha não nos
convidou”, dizia-me o bispo Medardo, que se sentia
feliz “porque dom Romero é de todos,
também dos luteranos”, apontava-me, pois “ele foi uma referência muito clara
para reconhecer e seguir Jesus na vivência
do Evangelho”. E me comunicava
com satisfação: “Já se assinou um comunicado conjunto da Igreja Católica e a Igreja Luterana sobre a justificação pela fé, que tanto nos
havia dividido na história da Igreja”.
E eu me perguntava: Onde estão as outras Igrejas, a Igreja Episcopal, a Igreja Batista, cujo pastor Miguel Tomás havia me convidado, no domingo, para celebrar o culto a dom Romero em sua Igreja, e onde estão a Fundação Romero, a Comunidade da
Cripta, as Comunidades Eclesiais de Base, os jovens
romeristas, a Coordenadora Ecumênica da Igreja dos
Pobres(CEIPES), o Comitê Dom Romero de El Salvador e o Secretariado Internacional Cristão de Solidariedade com a América Latina (SICSAL), que vinham de vários países e a quem pudemos saudar pessoalmente na
celebração da Vigília Popular, na Praça da Constituição, na noite anterior?
Para todos eles, dom Romero era uma
referência clara em sua atuação cristã, na solidariedade aos pobres e nas
causas justas pelo mundo. E mais, todos eles foram os que mantiveram forte o
legado de dom Romero e que sempre
souberam trazer na memória e atualizar sua mensagem, oferecendo a luz e a
esperança que dom Romero sempre
transmite aos pobres de todo o mundo.
É significativo que, no último momento, aqueles que prepararam a celebração
da Beatificação, diante das fortes críticas de todos estes grupos, tiveram que
mudar o lema que dizia: “Dom Romero, mártir por amor”, pelo definitivo:
“Dom Romero, mártir por amor aos pobres”.
É que todos estes grupos que entendem e vivem claramente a mensagem de
dom Romero criticavam a
apresentação de um Romero “light” e
“muito adocicado”, e que era preciso deixar muito claro que Romero era mártir
pela fé e a justiça, para que não ficasse muito “generalizado” e para que se
tornasse mais concreto esse amor aos pobres, que levou dom Romero a entregar sua vida pelo povo.
Como destacava uma pessoa que foi fisicamente muito próxima de Romero, o Santo da América agora beatificado, após estas celebrações tão
“excludentes”, terá que voltar a romerizar Romero.
A presença de personagens políticos próximos daqueles que idealizaram e
executaram Romero- Roberto D’Awison, filho e atual prefeito de Santa Tecla -,
empresários e donos de meios de comunicação combativos contra Romero provocaram gritos e reabriram feridas ao se perceber como estes,
que nunca quiseram Romero, neste dia,
ocupavam cadeiras proeminentes na mesma celebração.
Muitas pessoas das comunidades nos contavam, na primeira missa após a
beatificação do Santo da América, celebrada na cripta da catedral aos pés da
sepultura de Romero, que na celebração
de beatificação faltaram cânticos salvadorenhos, aplausos, gritos de
“viva Romero”...
Talvez este silêncio, “a falta de gritos e aclamações”, seja a antecipação
desse desafio que como crentes e cidadãos temos diante do futuro da mensagem
de Romero. Não encerrá-lo em
uma urna de cristal e fazer imagens e cartazes para as paredes, caso não ajudem
a atualizar o frescor e a vigência de Romero.
Restam-nos muitos desafios pela frente. Estaria tudo encerrado com esta
grande celebração, que acolheu tanta gente vinda de todo o mundo, algo único na
história de El Salvador? Já cumprimos tudo e tudo acaba assim? Onde fica a
investigação do magnicídio, o julgamento dos culpados, que já se sabe quem são,
uma vez que já foram investigados pela Comissão da Verdade das Nações Unidas?
Como se atualiza sua mensagem, que também hoje é uma voz muito forte
contra o imperialismo, que continua empobrecendo estes países com sua
influência econômica, militar e ideológica, com sua contínua intervenção, a
partir do Tratado do Triângulo Norte e suas Bases
Militares, e com a espoliação das matérias-primas e dos minerais destes países,
cada dia mais empobrecidos e mais dependentes?
Eduardo Galeano questionou
“como em um país tão pequeno, cabem tantos mortos”. Sem pretender responder,
sim, nós temos que nos deixar acolher por este povo, desejar sua dignidade...
para tornar realidade aquele sonho de Romero: “se me matam,
ressuscitarei no povo Salvadorenho”.As últimas homilias de Dom Oscar Romero, o santo dos Mártires
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