13º ENCONTRO ESTADUAL DE CEBS
CEBs Proféticas e Missionárias na
Vivência do Reino
Justiça e Profecia a Serviço da Vida
Carta à Igreja – Comunidade de
Comunidades
“ A
história da profecia é como o perfume.
Antes,
estava dentro do frasco da vida dos grandes profetas.
Agora, o
frasco quebrou e o perfume se espalhou pelo povo todo.”
(Milton Schwantes e Carlos Mesters)
Irmãs e irmãos das Comunidades Eclesiais de
Base da terra de Sepé Tiarajú,
Paz
e Bem!
Sob o céu azul do nosso
querido Rio Grande, recebidas/os calorosamente por jovens e acolhidas/os pela hospitalidade
das famílias e equipes das comunidades de Santa Maria, o coração deste estado,
onde brilha o testemunho de profetas como Dom Ivo e de lutadores/as que teimam
em gerar formas alternativas de desenvolvimento como o cooperativismo e a
economia solidária, seguindo as trilhas da fé e movidas/os pelo combustível da
esperança, nós estacionamos por três dias o trem das CEBs e armamos nossa tenda
ao redor do santuário da Medianeira, irmã peregrina dos pobres, profetisa do
povo libertado, mãe de todos e todas nós. Com seus vagões cheios de alegria e
esperança, fazendo memória do 8º Encontro Nacional de CEBs, aqui realizado em
1992, e impulsionadas pela indignação profética contra a injustiça e muitas
vezes, a indiferença que tornam deserdados milhares de irmãos e irmãs
empobrecidos, nós ousamos dizer com nossos mártires de ontem, de hoje e de
sempre: - Aqui estamos, Comunidades Proféticas e Missionárias na Vivência do
Reino, a Serviço da Vida!
As CEBs do Rio Grande
do Sul, durante os dias 26 a
29 de julho de 2012, a
caminho do 13º Intereclesial das CEBs do Brasil, que será nas terras do Padre
Cícero, em 2014, representadas por mais de 1300 delegados/as refletimos e
celebramos os sinais de libertação existentes em nosso meio, realizados pela
aliança do Deus libertador com seu povo.
Foi com muita alegria
e profunda esperança que convivemos com os/as irmãos/ãs das Igrejas cristãs
Anglicana, Luterana e uma irmã da Igreja Metodista. Temos consciência que precisamos
avançar nesse processo de unidade com todas as denominações religiosas porque o
que nos une é maior do que aquilo que nos separa, e a luta pela paz no mundo
reclama essa unidade entre nós.
O caloroso encontro
de abertura e as oito vibrantes mini plenárias fizeram nossas entranhas
estremecer, engravidando-nos de esperança renovada na realização do sonho de
Deus, descortinando novos horizontes a partir do deserto. As mini plenárias
abordaram a relação das CEBs com Justiça e Profecia na Bíblia e na Vida; a sua
Missão nas lutas do povo; a Vida no Planeta; a Mística e a Espiritualidade nas
Romarias; Profetas e Profetisas ontem e hoje; Juventudes; os Movimentos Populares
e o Macro Ecumenismo.
Como Igreja, comunidade
de comunidades, samaritana, fraterna e em comunhão com os oprimidos que se
libertam, reafirmamos o nosso compromisso com as dores e angústias, as alegrias
e esperanças particularmente dos que sofrem, pelo fortalecimento da identidade
de nossas comunidades eclesiais de base, proféticas, ecumênicas, espaços de
partilha, de formação, da leitura popular, orante e profética da Bíblia, de
celebração da vida do povo. Queremos fortalecer a fé na construção de Outro
Mundo Necessário e Possível, cujos sinais se expressam já aqui pela ação dos
pobres constituídos em povo profético e missionário, graças à força criadora do
Espírito, que fundou e fecundou a vida de Jesus de Nazaré.
Denunciamos a
violência das estruturas injustas que oprimem os pobres, exterminam as crianças
e os jovens, ferem a dignidade das mulheres, alimentam a discriminação,
desrespeitam a Terra e seus filhos. Não podemos nos calar diante da iniqüidade
da corrupção de nossa sociedade perversa e pervertedora, que reclama profundas
reformas do Estado vigente e de toda economia para que efetivamente estejam a
serviço da vida e garantam os direitos de toda população, impulsionando uma
sociedade sustentável, nas trilhas da Justiça e da Paz.
Como CEBs, esse jeito de ser Igreja seguidora do Nazareno, queremos
testemunhar o caminho da solidariedade em vez da competição, da partilha e do
consumo ético, em vez do consumismo individualista e do acúmulo sem fim,
gestando relações de inclusão, de igualdade, reciprocidade, respeito às
diversidades. E o queremos ser no meio dos pobres e como pobres constituídos como
POVO e POVO DE DEUS, fermento, sal e luz, ajudando a impulsionar o protagonismo
dos que precisam das mudanças, apoiando, incentivando e ajudando a organizá-los
para, frente à globalização do capital, construir a globalização da esperança,
fundada na solidariedade, com justiça social e ambiental.
Como batizados/as,
conscientes de nossa missão, voltamos às nossas comunidades com a esperança
revigorada e acalentada pela partilha que vivenciamos nesses dias. Nos
disponibilizamos a impulsionar o compromisso com o profetismo pela justiça a
serviço da vida, no campo e na cidade. Caminhamos como cidadãs e cidadãos do
Reino, rumo à Galiléia, onde faremos memória da morte e ressurreição do
Nazareno em cada gesto de solidariedade entre nós e com os mais necessitados.
Seguimos os passos de
Jesus de Nazaré, na certeza de que a nossa mãe Maria, Medianeira de todas as
graças, militante do Reino, mãe de Jesus e nossa mãe, caminha conosco e nos
ensina a ler sinceramente o Evangelho de seu filho e nosso irmão e a traduzí-lo
para a vida, com todas as revolucionárias conseqüências, no espírito das
bem-aventuranças e no risco total daquele amor que sabe dar a vida pelos que
ama.
Com
Sepé Tiarajú, Roseli Alves Nunes, tantos e tantas que regaram com seu suor,
suas lágrimas e seu sangue essa terra sagrada e com Josimo Tavares,
proclamamos: - “Nas mãos do povo, nas línguas da história: o desafio da nova
sociedade. Como se descama o peixe, e com sal lhe devolve o gosto ardente que
sacia a fome aguda de quem navega a liberdade, assim os pequenos e oprimidos,
em passos de esperança, arrancarão de nossa história o medo e, com palavras vivas
de quem luta, canta e clama, nutrirão as entranhas do tempo com o sangue do
direito e da justiça. Homens e mulheres, cada ser do universo, construirão o
movimento inesgotável da libertação definitiva.” (Desafio, poema)
Encerrando
o nosso 13º Encontro Estadual de CEBs, firmamos o que segue:
Nós, das CEBs
Proféticas e Missionárias na Vivência do Reino, nos comprometemos:
- com
uma catequese voltada para as famílias,
formação bíblica a partir da
leitura popular e da leitura orante, de forma que na partilha do bem e na
prática da justiça possamos participar efetivamente e chamar novas pessoas para
uma maior participação da Igreja na política, nos conselhos municipais,
estaduais e federais, na defesa do meio ambiente, das fontes de água e do SUS;
- a aprofundar e fortalecer o estudo da
identidade das CEBs, proféticas, missionárias, democráticas e ecumênicas e
divulgar e motivar à participação de mais pessoas;
- a
assumir a defesa da vida do planeta, buscando um modo de vida sustentável que
respeita o meio ambiente;
- com as iniciativas dos excluídos
(catadores, indígenas, meninos/as de rua, donas de casa, sem terra,
ribeirinhos...) que, com suas experiências, denunciam o modelo capitalista
excludente, que gera opressão e exclusão, apontando assim para a construção de
uma sociedade economicamente justa, politicamente democrática, socialmente
equitativa e culturalmente plural;
- a
trabalhar para que as Romarias priorizem a mística e a espiritualidade a
serviço da vida, alicerçada na escuta da Palavra, do compromisso profético e
libertador;
- a promover a Romaria Libertadora da
Juventude;
- a
promover a formação de lideranças nas comunidades, a partir de uma leitura
popular, orante e profética da Palavra de Deus;
- a dinamizar espaços que qualifiquem e
sintonizem a vida litúrgica das comunidades com a vida das juventudes,
garantindo o protagonismo juvenil,
levando ao engajamento e comprometimento com a realidade das/os
empobrecidos/as;
- com a
organização na base, a partir da esquerda, na luta popular:
*
participação da organização e realização do 18º Grito dos Excluídos;
*
assumir e impulsionar a 5ª Semana Social Brasileira;
*
apoiar o projeto de lei de iniciativa popular que visa a criação de uma
política nacional da Economia Solidária;
*
apoiar a luta contra os agrotóxicos.
- a não medir esforços para superar toda a
intolerância existente entre as religiões e construir juntos, a partir daquilo
que nos une, a luta pela justiça e pela paz.
- a
lutar pela adequação das atuais estruturas da nossa Igreja para que a ela seja
um instrumento eficaz a serviço das comunidades, abertas para as juventudes, a
festas do povo e sua organização por seus direitos.
Santa Maria, 29 de
julho de 2012
Delegados e delegadas
do 13º Encontro Estadual de CEBs
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