JORGE TEIXEIRA: AMIGO MEU!

Nos anos 80, um filme fez muito sucesso: chamava-se "Inimigo Meu." Era a história de um terráqueo e um extraterrestre que, a duras penas, tiveram que fazer amizade! Nutro por Jorge um sentimento que, muito me faz lembrar a narrativa daquele filme!

Minha vida sempre foi repleta de amizades! Algumas duradouras, de mais de 30 anos! Outras, de amizades rápidas, de gente que entra na vida da gente e que passam, deixando um cheiro bom de saudades! Assim foi com Jorge Teixeira! O Jorginho!

Conheci Jorge no início de 2014! No primeiro ano da faculdade de direito! Jorge foi um típico cotiano de classe média, estudou no Colégio Madre Iva, junto com os quatrocentões dessa cidade! Um sujeito querido por muitos! Nascido no Rio de Janeiro, chegou em Cotia ainda muito novo!

Hoje, dia 24/03/2016, ao acordar, fui avisado por colegas da nossa turma de direito, de sua morte! Um dia antes, soube que seu quadro de saúde era grave! Tudo começou a coisa de duas semanas atrás, com uma gripe, que evoluiu! No sábado passado, depois de sair do hospital, me ligou querendo saber se eu poderia almoçar com ele e que iria chamar mais algumas pessoas da sala! Lhe respondi que não era possível, nos despedimos e não fiz mais contato com Jorge! No sábado, dizia que estava super bem! Disse que havia saído do hospital na noite anterior! Na segunda feira, dia 21, voltou ao hospital, com crise respiratória, evoluiu para uma parada cardíaca, foi pra UTI e não retornou mais! 

Antes de 2014, não o conhecia! Fomos apresentados pela antipatia que nossas diferenças ideológicas permitiram. O Jorge, uma pessoa que não se incomodava nenhum um pouco em se identificar como sendo um conservador de direita, no espectro político-ideológico! Eu, bem, eu sou a antítese completa e acabada do ponto de vista ideológico do Jorge!

O Jorge era Maçom e Espírita! Eu, ligado à Teologia da Libertação e Católico. A única semelhança era sermos corintianos! Logo no início do curso de direito, nossas diferenças se apresentaram, o que fatalmente gerou uma boa e acalorada discussão, que só não se encaminhou para as vias de fato, porque não demos o primeiro passo!

Após este episódio, as coisas se acalmaram, embora não nos falássemos, passamos a respeitar o espaço um do outro! Entre risos e trabalhos comuns, começamos a nos aproximar! Eu sempre tive curiosidade em entender como uma pessoa se torna um militante de direita! Provavelmente, esta era também a percepção dele com relação a mim, em uma curiosidade inversa e proporcional!

Em meados de 2015, conversávamos sobre o curso de direito e sobre as dificuldades que iríamos enfrentar se não tivéssemos um curso mais aprimorado e daquela conversa, nasceu a idéia de montarmos um jornal do curso de direito, e ele o batizou - MALHETE - que seria o embrião do Centro Acadêmico da Faculdade Mário Schemberg.

Nossa primeira decisão foi conversar com outros colegas para eleger Jorge nosso representante de classe e assim foi feito. Depois de uns três meses, em meados de setembro de 2015, teve um dia que nos telefonamos e decidimos conversar um pouco, somente nós dois! 

Essa conversa foi na Churrascaria do 30 e rimos muito pois estávamos nós dois, antagonistas políticos naturais e absolutos, construindo um diálogo sobre nossos futuros! Quiça, em conjunto! Nessa noite, alguns colegas de turma, passaram por lá e davam risada de nossa amizade, pois como era público, até então, sabia-se que água e vinho não se misturavam!

Fechamos o restaurante e ficamos conversando do lado de fora! Uma longa e boa conversa! Choramos juntos, confidenciamos nossas limitações, pedimos desculpas pela nossa estupidez de avaliar um e outro pelo aspecto ideológico e não pela perspectiva humana. Rimos, falamos sobre família, filhos, sobre nossas companheiras e sobre a vida!

Conheci um ser humano excepcional! Conheci um coração generoso e um garoto num corpo de um homem! Um rapazinho com muita vontade de abraçar um pai que já não poderia mais fazê-lo e que tinha uma gratidão infinita como só os que amam podem ter por uma mãe que era seu norte!

Conheci um corintiano fanático, engraçado, louco até as raizes da loucura profunda por um time de futebol que não importava o resultado, com tanto que o palmeiras e o são paulo perdessem, tava tudo certo! Não importa qual a posição no campeonato, se rebaixado ou se campeão mundial, importava o amor pelo time que era sua grande e irracional paixão!

Conheci um cara que queria o bem a todos! Um homem de posições firmes, imutáveis e absolutistas! Mas que poderia modifica-las assim que convencido da justeza em faze-lo! 

Conheci um amigo formidável, um trabalhador incansável, uma mente brilhante, de inteligência ímpar! 

Jorge vai me fazer falta! É difícil achar coxinhas com cérebro! Jorge não se deixava levar pelo discurso fácil da hipocrisia tucana! Ele dizia que não tinha corrupto de estimação! 

Vai fazer falta ao direito, pois muito poderia contribuir para a justiça, onde quer que fosse trabalhar em prol dela! Vai fazer falta para a faculdade Mario Schemberg, pois sua disposição em melhorar o curso de direito era pela via do questionamento e da contribuição!

Vai fazer muita falta para nossa turma! Era uma referência! Um norte a ser seguido! Um ponto de equilíbrio no diálogo e na firmeza de princípio e propósito!

Finalmente, Jorge vai fazer falta pra mim! Por sua retidão de caráter, por sua firmeza de princípios, por sua capacidade de não se abduzir por instintos de ódio que permeiam o discurso daqueles que são contrários aos princípios políticos que pessoas como eu defendemos. 

Me fará falta em analisar nossa expectativas com relação ao senso de justiça que compartilhávamos! Jorge vai fazer falta porque sua alma generosa, carregava consigo o imenso sentimento de que a ajuda ao próximo não se basta em uma intenção! Precisava vir acompanhada de uma pratica transformadora que libertava! Sua caridade não era algo percebido em seus discursos! Era sentida em sua ação concreta! 
Jorge já faz uma falta danada!