SÃO PIER GIORGIO FRASSATI: A FÉ COMO RESISTÊNCIA: O SANTO QUE ENFRENTOU O FASCISMO
VOCÊ CONHECE SÃO PIER GIORGIO FRASSATI ?
Por: Toninho Kalunga*
São Pier Giorgio Frassati: o Santo Antifascista e a proposta do Evangelho como Revolução da Caridade
Um jovem que viveu o Evangelho com os pés no chão da história
Poucos santos expressam com tanta clareza a inseparabilidade entre fé e compromisso social quanto São Pier Giorgio Frassati.
Nascido em Turim, em 1901, no seio de uma família rica e influente, ele poderia ter seguido os caminhos da elite italiana de seu tempo.
No entanto, escolheu o caminho oposto: o da solidariedade com os pobres, a luta pela justiça e a resistência ao fascismo.
Pier Giorgio compreendia que o Evangelho não é um refúgio espiritual individualista, mas uma convocação à ação histórica. Seu lema era simples e profundo: _“Vivere, non vivacchiare”_ — “Viver, e não apenas sobreviver”.
Para ele, viver significava agir, servir e lutar. E essa luta o levou a desafiar diretamente as estruturas de opressão que se erguiam na Itália sob o comando de Benito Mussolini.
A FÉ COMO RESISTÊNCIA: O SANTO QUE ENFRENTOU O FASCISMO
Em uma época em que a Igreja institucional hesitava diante do fascismo nascente, Pier Giorgio Frassati escolheu o lado do povo.
Participava de manifestações estudantis e greves, enfrentando grupos fascistas nas ruas. Sua fé o impelia a rejeitar o autoritarismo e o nacionalismo excludente que negavam a dignidade humana.
Ele acreditava que não há verdadeira fé cristã sem opção pelos pobres. Sua espiritualidade se traduzia em compromisso político concreto — não partidário, mas profundamente evangélico e social.
Nas palavras que poderiam ser ditas também por Dom Helder Câmara décadas depois: “Quando dou pão aos pobres me chamam de santo; quando pergunto por que eles são pobres, me chamam de comunista.”
A caridade transformadora: de joelhos diante de Cristo e de pé diante dos poderosos
Frassati entendia que a caridade não é mero assistencialismo, mas revolução da ternura — como diria mais tarde o Papa Francisco. Ele integrava a Sociedade de São Vicente de Paulo, visitando famílias em cortiços, levando comida, roupas, remédios e palavras de esperança.
Era membro ativo da Ação Católica, onde pregava o engajamento político dos leigos e a formação social inspirada no Evangelho.
Sua vida mostrava que rezar o terço e protestar contra a injustiça não são atos opostos, mas duas faces da mesma fé que se encarna na história.
Pier Giorgio Frassati, levava o pão aos famintos e também levantava a voz contra o fascismo que os oprimia. Essa coerência entre fé e ação o fez ser chamado por muitos de “o santo das bem-aventuranças”.
Juventude e profecia: um modelo para os novos tempos
A santidade de Pier Giorgio não nasceu nos altares, mas nas ruas, nos cortiços, nas universidades e nas lutas do seu tempo. Morreu jovem, aos 24 anos, vítima de poliomielite, que contraiu durante uma de suas visitas aos pobres.
Ao morrer, sua família — da elite turinesa — se surpreendeu ao ver milhares de operários, camponeses e jovens simples acompanhando seu cortejo fúnebre. Eles sabiam quem era aquele jovem: um deles.
Décadas depois, Papa João Paulo II o beatificou, e Papa Francisco o elevou como modelo de juventude cristã engajada, lembrando que “a fé de Frassati era alegre, combativa e profundamente solidária”.
São Pier Giorgio Frassati e a Teologia da Libertação: a fé que se faz história
Embora tenha vivido muito antes do surgimento da Teologia da Libertação, Frassati encarna seus princípios fundamentais:
- A opção preferencial pelos pobres
- A fé que se encarna na realidade social e política;
- A denúncia profética da injustiça;
- O anúncio da esperança e da fraternidade como horizonte cristão.
Se vivesse na América Latina dos anos 1970, Pier Giorgio estaria ao lado de Dom Oscar Romero, Dom Pedro Casaldáliga, Dom Helder Câmara e das Comunidades Eclesiais de Base.
Seria um jovem de boné, Bíblia e megafone, gritando nas ruas que o Reino de Deus começa onde o povo se levanta.
Viver o Evangelho com coragem e ternura
São Pier Giorgio Frassati continua sendo um sinal profético para o nosso tempo, em que a fé é novamente instrumentalizada por ideologias autoritárias. Ele nos recorda que a santidade não é fuga, mas compromisso; não é neutralidade, mas escolha de lado: o lado dos pobres, dos oprimidos e da justiça.
Seu exemplo convida a juventude católica e os militantes cristãos de hoje a viverem uma fé encarnada, libertadora e alegre, que transforme as estruturas de pecado em estruturas de solidariedade.
Em tempos de intolerância e ódio travestidos de religião, o testemunho de São Pier Giorgio Frassati ecoa como um grito do Evangelho:
> “A fé sem obras é morta” (Tg 2,26).
E a obra maior da fé é lutar para que todos tenham vida e a tenham em abundância (Jo 10,10).
Toninho Kalunga, é membro da Fraternidade Leiga Charles de Foucauld

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