A HUMILDADE DOS HIPÓCRITAS – UM ALERTA À ESQUERDA BRASILEIRA
A HUMILDADE DOS HIPÓCRITAS – UM ALERTA À ESQUERDA BRASILEIRA
Por: Toninho Kalunga.
Um desfile de arrependimentos tomou conta das redes sociais e da imprensa nos últimos dias. Deputados federais de diferentes matizes ideológicas gravaram vídeos com pedidos de desculpas, se dizendo arrependidos ou deram entrevistas tentando justificar o injustificável: o voto favorável à PEC da Bandidagem, sob um pretexto que fere a democracia e afronta a ética pública.
Alguns alegam ter agido "pelo bem do país"; outros escondem-se atrás de supostos compromissos políticos, que trariam vitórias para projetos de interesse social. Na realidade, porém, o que testemunhamos é a humildade dos hipócritas.
O OPORTUNISMO E A COVARDIA DO CENTRÃO E DA EXTREMA DIREITA
O episódio da votação revelou, de forma cristalina, o oportunismo e a covardia que marcam a prática do centrão e da extrema direita. São blocos que vivem de barganhas, de emendas e de cargos, mudando de posição conforme sopra o vento do poder.
Primeiro votam sem pudor para garantir vantagens imediatas; depois, diante da reação popular, tentam se descolar do próprio ato, encenando arrependimento ou alegando má interpretação do texto votado. Esse roteiro é velho: usam o mandato como balcão de negócios, defendem privilégios da elite econômica e, quando a sociedade reage, posam de inocentes.
Não se trata de desinformação, mas de cálculo frio: votar contra o povo quando acham que ninguém está olhando e, quando descobertos, vestir a fantasia de patriotas arrependidos. E, como se não bastasse, são os mesmos que ainda têm a cara de pau de apontar o dedo para deputados do PT, do PSB e do PDT que, infelizmente, se sujeitaram a votar com eles, tentando transferir a própria culpa para quem cedeu ao acordo espúrio.
Na política, acordos fazem parte corriqueira da atividade parlamentar. Isso, porém, não significa se sujeitar a desmandos e desvarios — que essa seja a lição para os nossos deputados! É a síntese da política da conveniência que corrói a democracia brasileira e que precisa ser enfrentada com coragem e coerência.
O DESAFIO DA ESQUERDA
Não surpreende que parlamentares de direita ajam assim; sua história sempre esteve a serviço dos interesses da minoria rica. O que verdadeiramente dói é ver figuras que se apresentam como de esquerda embarcando na mesma canoa furada.
Desde os anos 1980 até recentemente, muitas lideranças foram abandonando as cores vibrantes da ideologia libertadora e afastando-se de conceitos como socialismo e luta de classes, como se a defesa dos pobres tivesse se tornado um fardo eleitoral.
Em nome da "governabilidade", justificam alianças espúrias. Argumentam que, para garantir benefícios pontuais – como a ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda –, vale tudo, inclusive proteger quem sabota a democracia. Mas qual é o preço de trocar a coerência pelo cálculo político? A própria alma da esquerda.
HORA DE RECUPERAR A COERÊNCIA
Ser de esquerda significa, antes de tudo, ter a coragem de permanecer ao lado do povo, de quem produz e sustenta este país. Não se trata de purismo ingênuo, mas de fidelidade a um projeto histórico de justiça social, participação popular e emancipação. Quando aceitamos o "mal menor" como estratégia permanente, abrimos espaço para o mal maior: a captura do Estado por interesses privados.
UM CHAMADO À MILITÂNCIA
O episódio recente vai além de um mero tropeço parlamentar. É um sintoma de uma crise moral, política, ética e filosófica. Para quem acredita na transformação social, não basta denunciar a direita; é preciso reconstruir, de baixo para cima, uma esquerda coerente, enraizada na vida do povo e alimentada pela mística libertadora e pela organização popular.
A verdadeira humildade não é a dos hipócritas que pedem perdão apenas na aparência. A verdadeira humildade está em mudar de rota, reatar com as lutas populares e sonhar novamente com uma sociedade justa e igualitária.
A TAREFA DO RECOMEÇO
O maior reconhecimento do erro não está em novos discursos, mas em ações concretas: mergulhar nas comunidades carentes não para captar votos, mas para transformar seus mandatos em instrumentos de recuperação do verdadeiro significado de ser de esquerda.
Isso implica radicalizar nas pautas e na prática da construção do campo popular, fortalecendo movimentos sociais, sindicais e a organização das lutas do povo. Essa é a tarefa mais urgente da vida política para aqueles que erraram neste voto.
Que sigam, enfim, o conselho de Dom Pedro Casaldáliga: “Na dúvida, fiquem ao lado dos pobres.”
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