sexta-feira, 6 de março de 2009

VISITA A DOM IRINEU

Posted by toninhokalunga On sexta-feira, março 06, 2009 Comentários

Era 1994, mes de junho, inverno rigoroso, saimos de São Paulo, por volta de 1 hora da manhã, da frente do Sindicato dos Quimicos, na Lapa, três carros, sendo uma Kombi. O céu estrelado anunciava que o frio continuaria intenso. Eu na época era coordenador da Pastoral da Juventude e estava iniciando uma fase nova em minha militância, estava conhecendo a DS (democracia socialista) uma tendencia de esquerda no PT que estava apoiando uma ação do MST de Promissão, interior de São Paulo e alguns sindicalistas estavam levando mantimentos, roupas e apoio politico aos sem terra, que estavam sofrendo uma pressão danada da policia, de jagunços (que no fundo era a mesma coisa) que eram financiados por usineiros da região que se sentiam tremendamente incomodados com a petulância daquele monte de gente pobre que ousavam querer ter direito a dignidade de criar seus filhos sem serem submetidos ao abusivo esquema de semi escravidão de bóias frias a que lhes eram impostos o que os usineiros chamavam de trabalho.
Chegamos quase 7 horas da manhã, o pescoço dolorido do mau jeito de ter dormido todo torto no banco do carro, via um monte de barracos de lona preta, dentro do carro, um cheiro insuportável de cigarro e um gelado entrando pelo vidro aberto deixado pelo Marcão que saiu do carro igual criança quando ve um grande amigo. Abraçou um , apertou a mão de outro, deu rizada, enfim, percebia-se que estava em casa!! Desci do carro batendo o queixo de tanto frio, a mão mal conseguia se movimentar para cumprimentar aquela gente acolhedora. Aquele estava sendo meu primeiro contato com um acampamento de Sem Terra. Um pouco nervoso, com um certo medo de que houvesse tiros de um eventual conflito, pois na televisão, não se ouvia outra coisa, ao não ser que os Sem Terra eram violentos. Achei intrigante, ver crianças saindo de dentro daquelas lonas pretas, olhinhos inchados de sono, outros já mais espertos correndo ou procurando algo para comer, mulhres, senhoras, idosos... enfim, um exercito estranho! Pensei comigo, que deveria ser estranho aquela gente mirrada, arrumando uma briga... pra pegar o Marcão, por exemplo, com seus quase 140 kilos, precisava de pelos menos uns 10 homens do porte fisico da média dos que se via por ali! E ainda assim, com duvidas se a estratégia guerreadora daria certo.
Dai a pouco vi algumas pessoas correndo, o coração disparou, ja deu vontade de correr também, mas em direção contrária! Um certo alvoroço se fez, olhos em direção a um carro que abria a porta, pescoços curiosos levantados e do carro sai um senhor bem apessoado, simpático, parecia ser bem conhecido do povo ali. Alguém perguntou de quem se tratava, então, um dos líderes do acampamento informa: É o bispo de Lins, nosso amigo, Dom Irineu!! Apóia a gente aqui.
Este foi meu primeiro contato com este grande homem. Não me apresentei, embora tivesse vontade de faze-lo, mas como não conhecia ninguém dali, fiquei quieto. Mas fiquei emocionado e todo orgulhoso, pois, era vitima diaria das piadas dos meus companheiros por ser católico... o Bispo ali, era minha libertação... afinal, agora podia dar "carteirada" nos meus companheiros, ninguém mais podia dizer que a igreja era pelega! Não era! A Igreja, a minha igreja era libertadora dos pobres, estava ao lado dos desvalidos, era a igreja peregrina que caminhava ao lado dos injustiçados... fui batendo nas costas de um por um dos meus sindicalistas revolucionários... e com olhar altivo e zombateiro informava de quem se tratava o senhor ali... cabelos brancos, magro, alto, sorridente, um homem que sem saber, estava me dando discurso para o resto do ano; Agora, era eu quem podia falar sobre apoio a luta do povo.
Depois, passados uns 4 anos, novamente pude encontrar Dom Irineu, pessoalmente, no mesmo local, mas desta vez, já com o povo assentado e Dom Irineu presidindo uma missa
num assentamento. Desta vez pude me apresentar e conversar, a partir dai, várias outras vezes, tive oportunidade de ve-lo. Sempre com a mesma disposição e entusiasmo de olhar para os Sem Terra sem preconceitos estúpidos e com olhar compassivo.
Ontem, quarta feira, fui a Lins para conversar pessoalmente com Dom Irineu, que me recebeu em audiência e com seu inconfundível sorrizo . Fui lhe pedir aconselhamento e sua benção para a empreitada que estar por vir. A possível candidatura a Deputado Federal me faz renovar o entusiasmo com minha fé, me empurra ao encontro da profecia tão atual do Magnificat de Maria. O caminho a seguir esta na minha frente. O primeiro passo, já esta dado! Dom Irineu, como tantos e tantos outros sabem que a vocação a que me sinto chamado é ardua e cheia de dificuldades. Mas é também agraciada e abençoada por Deus através de homens como meu amigo, Dom Irineu Danelon!

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