"As crescentes denúncias de corrupção, fisiologismo e apropriação indevida de recursos públicos causam indignação e revolta. E exigem uma resposta de todos os cidadãos. A CNBB conclamou os brasileiros a uma espécie de mutirão pela ética, em sintonia com a OAB e entidades representativas da sociedade civil. Decisão mais que oportuna.
O momento é delicado. Mas também pode ser fecundo e gerar mudanças sérias nos mecanismos que alimentam e perpetuam a corrupção, se soubermos adotar uma posição madura e construtiva diante da avalanche de denúncias e acusações publicadas diariamente".
Aproveitando o gancho da Cidade Nova, queremos relembrar para nossos leitores um assunto que domina todas as conversas:
O que é mesmo Ética?
Segundo Betinho, Hebert de Souza, " ética é um conjunto de princípios e valores que guiam e orientam as relações humanas.
Esses princípios devem ter características universais, precisam ser válidos para todas as pessoas e para sempre". Um dos primeiros códigos de ética de que se tem noticia são os dez mandamentos, que Deus entregou a Moisés.
A ética é muito mais ampla , geral e universal do que a moral. A ética tem a ver com os princípios mais abrangentes, enquanto a moral se refere mais ao campo da conduta humana. Uma depende da outra. A ética é algo maior, a moral é mais limitada, restrita, circunscrita.
Vamos aos exemplos : " não roubar" é um princípio universal, deve fazer parte do senso comum. Se fosse permitido roubar, o caos se estabeleceria. A sociedade ficaria inviável, porque não há possibilidade de convivência sem o respeito a certos princípios. Seria a lei do mais forte, e do mais capaz.
Quando um grupo humano e uma nação perdem a consciência destes valores e princípios universais, válidos e necessários, acabam ficando sem rumo e sem eixo, entrando em profunda crise. Perdem a bússola, o referencial. Daí para que cheguem a barbárie, o caminho é muito curto.
Atitudes, sistemas socioeconômicos e estruturas políticas antiéticas corroem as pessoas, os grupos humanos, as nações, o planeta como um todo. Minam e lesionam tudo o que encontram pela frente sem poupar o que não serve aos seus interesses.
Ferem pessoas, violam seus direitos, eliminam e excluem os mais fracos, matam a vida.
Não seria esta a radiografia de nossa sociedade e de nossas vidas?
A ética da sociedade hoje dominante é utilitarista e egoísta. O ser humano estima que tudo se ordene a ele. Considera-se senhor e patrão da natureza, que está aí para satisfazer suas necessidades e realizar seus desejos. Tal postura leva à violência e à dominação dos outros e da natureza. Nega a subjetividade de outros povos, a justiça às classes e o valor intrínseco dos demais seres da natureza. Não percebe que os direitos não se aplicam apenas ao ser humano e aos povos, mas também aos seres da criação. Há um direito humano e social, como há um direito ecológico e cósmico. Não temos o direito de destruir o que não criamos.
Quando é que o ser humano vive eticamente?
Quando ele se recusa a ser conivente com o sistema utilitarista que tudo torna descartável, transformando em lixo o que não pode ser usado, sobretudo pelos pobres.
Quando ele rompe com o sistema e sua ideologia dominante.
Sistema esse que tem se mostrado incapaz de satisfazer as necessidades humanas mais profundas, que passam pelo coletivo e pelo comunitário. Sistema que tem como deus o capital competitivo e individualista em sua própria natureza, destruindo assim valores como a solidariedade, a partilha, a cooperação, a comunhão com os mais necessitados, os laços de amizade pura, desinteressada e sincera.
Todas as vezes que não coloca à venda sua consciência, sua liberdade, seus sonhos, seus ideais e crenças mais profundas em troca de prestígio, fama vaidade pessoal, poder e dinheiro.
Quando não suborna e não se deixa subornar em troca de "favores", dinheiro e outros interesses.
Quando se recusa a dominar (manipular, oprimir) os outros, assim como não permite que o manipulem e o oprimam.
A fraternidade e o amor são opostos da vontade de dominar e manipular.
Quando pratica o bem e a justiça. Ética é justiça.
Quando em nome do equilíbrio, da maturidade e do bom senso, coloca limites aos seus desejos, planos e ambições. Caso contrário, cairá no consumismo doentio e na ganância cega e insensível ao bem de todos.
Vivemos dias tristes em que a ética e a virtude são considerados como coisa de otários. Oxalá, todos nós tenhamos coragem para tomar posições para mudar este tipo de coisa.
Do livro Cidadania e Ética - José Roberto Simão - FTD
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