Um grito de dor, um clamor por justiça
Água, terra, ar. Terra, Gaia, Casa Comum, Nossa Morada. Água de beber, lavar, purificar, batizar, santificar. Terra que faz brotar o alimento, a beleza, a sombra. Verde que apazigua e refresca a alma. Terra que faz germinar o nosso sustento, nosso futuro. Com qual direito, tudo isso, tão santo e necessário, poderia nos ser furtado? E com que tamanha falta de exercício do dever, instituições negligenciam, há tantos anos, a devida atenção para um caso que se tornou o maior passivo ambiental do país? Um trecho da Carta da Terra nos diz: “os padrões dominantes de produção e consumo estão causando devastação ambiental, redução dos recursos e uma massiva extinção de espécies. Comunidades estão sendo arruinadas”.
Onde houver erro, que eu leve a verdade
De 1974 a 1987, 59 empresas multinacionais aproveitaram a inexistência de um marco regulatório ambiental sobre a destinação de resíduos industriais no Brasil, para em terras do interior paulista – Santo Antônio de Posse, depositar ilegalmente todo e qualquer tipo de lixo industrial, sem nenhum monitoramento ou controle. Foram depositados, declaradamente, 326 mil toneladas de resíduos tóxicos.
Uma série de atos negligentes e omissos de entidades e órgãos responsáveis pela fiscalização do local arrastou o caso de maneira morosa e descomprometida, desde o início até o término de suas atividades. Moradores do entorno, expostos à contaminação invisível, não tinham nenhum tipo de acesso a laudos e análises. Vinte e sete anos após o início das atividades no Aterro Mantovani, ou seja, em 2001, partes das empresas (48) assinaram um Termo de Ajustamento de Conduta, comprometendo-se a remediar a área. Os moradores já não podiam consumir a água de seus poços artesianos e nem plantar em suas terras. Um impacto na geração de renda das famílias, no valor de suas propriedades, na saúde, e principalmente, um grande impacto emocional. Pensar que durante anos e anos, sem saber, beberam da água, respiraram do ar e comeram da colheita plantada em terras contaminadas. Pensar que no tempo atual, a geração de filhos e netos também vive sob a mesma situação. Impossível classificar tamanha angústia.
Evidências Análises detectaram em 2000 e em 2002, a contaminação do poço de abastecimento em dois sítios com 1,2 Dicloroetano, substância altamente cancerígena. A quantidade máxima estabelecida e aceita pelo Ministério da Saúde é de 10µ/L. No Sítio Santo Antônio, foi encontrado de 144 a 166 µ/L. Há casos de câncer, infertilidade e morte por causa da contaminação das águas na região. Depois da assinatura do TAC, pouco se avançou. Sem poder consumir a água de suas casas, os moradores recebem um caminhão de água por dia para abastecimento e nada mais. Nas palavras da promotoria da comarca de Jaguariúna, onde corre o processo, “nada garante que o compromisso firmado pelas empresas seja cumprido”.
13ª Romaria da Terra e Águas de São Paulo
Dia 21de agosto, entorno do Aterro Mantovani, Santo Antônio de Posse
Deus guia o povo pelo caminho.
“E o senhor ia adiante deles, de dia numa coluna de nuvem, para guiá-los pelo caminho, e de noite numa coluna de fogo, para os alumiar. Nunca tirou de diante da face do povo a coluna de nuvem, de dia, nem a coluna de fogo, de noite. (Ex 13-21,22)”.
Chamamos os irmãos e irmãs da terra e das águas, para junto conosco, caminhar e clamar por justiça social e ambiental. Uma caminhada para selar um compromisso comum em dar passos firmes rumo à sustentabilidade. À luz da Carta da Terra, partilhamos de um supremo desafio para o futuro. “A escolha é nossa: formar uma aliança global para cuidar da Terra e uns dos outros, ou arriscar a nossa destruição e a da diversidade da vida. São necessárias mudanças fundamentais dos nossos valores, instituições e modos de vida.
Devemos entender que quando as necessidades básicas forem atingidas, o desenvolvimento humano é primariamente ser mais, não, ter mais. Temos o conhecimento e a tecnologia para abastecer a todos e reduzir nossos impactos ao meio ambiente. O aparecimento de uma sociedade civil global está criando novas oportunidades para construir um mundo democrático e humano.
Nossos desafios, ambientais, econômicos, políticos, sociais e espirituais estão interligados, e juntos podemos forjar soluções includentes”.
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