Gravidez e Adolescência
Fomos especialmente convidados pelo Dr Denis Ferrari a participar de uma sessão do programa Terças Femininas, realizado pelo Espaço da Mulher, cujo assunto a ser discutido será Gravidez e Adolescência.
Aqui também, em Cotia, percebemos uma alta incidência de gravidezes entre os adolescentes. O sofrimento que se instaura numa família, sobretudo nas menos favorecidas e por conta desses acontecimentos, é muito grande. A cada dia que passa, sem que os nossos governantes tomem providências mais contundentes para minimizar esse problema, mais crianças tornam-se adolescentes e mais adolescentes engravidam. Ações como a que o Dr Denis Ferrari está promovendo no seu Espaço da Mulher, aqui em Cotia-Granja Viana, são de extrema importância. Extendo o convite formulado pelo médico a todas as pessoas interessadas em entrar mais profundamente em contato com o assunto. Da reunião participarão especialistas da ASSA (Serviço Social Santo Antônio) e da Vida Plena.
A reunião será no dia 24 de junho próximo, às 19:30hs, no Espaço da Mulher (R. Monet, 79 - Granja Viana). A entrada é gratuita e deve ser feita reserva de vaga pelo telefone 4617-4993.
GRAVIDEZ E ADOLESCÊNCIA
*Denis Ferrari
O acontecimento concomitante dos fenômenos da adolescência e da gravidez continua
tirando o sono de muita gente e nos assustando. Novas estratégias se fazem necessárias para que
o uso das técnicas de anticoncepção produzam os efeitos esperados, ou seja: a diminuição da
freqüência desses acontecimentos, caso, ainda, eles venham a ser definitivamente entendidos
como prejudiciais aos indivíduos e à sociedade.
Enquanto um evento previsível, como se fosse uma doença contagiosa sem vacina, tal
acontecimento parece perpetuar-se como algo virulento. Enquanto um evento indesejável, como
se fosse uma doença para a qual não nascemos imunizados, parece existir um consenso quanto ao
fato de que eles produzem apenas efeitos negativos tanto a nível individual quanto coletivo.
É fato, motivo pelo qual vivemos em constante estado de alerta, que pouco conseguiu-se
de positivo no tocante à diminuição da ocorrência de gravidezes entre os adolescentes. Com
excessão de alguns rincões dos grandes centros, onde algum sucesso foi obtido, é evidente o
fracasso das ações já realizadas visando o decréscimo dos índices de gravidez na adolescência.
Tal fracasso coloca-nos num estado dominado pela frustração e desencantamento.
Tanto a frustração quanto o desencantamento atingem atualmente uma grande
magnitude. Chega a ponto de fazer com que, mais do que antes, os adultos enxerguem os jovens
através de olhares preconceituosos e precavidos.
Para os olhares dos adultos, todos os adolescentes aparecem como se fossem potenciais
algozes, interessados em desafiar a autoridade paterna, dispostos a burlar as regras de
convivência e prontos para conturbar a organização da vida em sociedade. Quando não, são
interpretados como vítimas da própria biologia, de uma convivência familiar deteriorada e de
uma coexistência social insalubre.
Os estudos já realizados com a intenção de identificar e controlar os motivos pelos quais
os jovens estão engravidando na adolescência com maior freqüência, mostram uma
multiplicidade de fatôres causais.
Tais fatôres, avaliados isoladamente ou até mesmo agrupados em pacotes (fatores
individuais, familiares, sociais, econômicos, jurídicos etc...), além de mostrarem-se resistentes
às ações pressupostamente controladoras da situação, funcionam como elementos que dificultam
a criação e a aplicação de estratégias para colocar em prática as técnicas já existentes para o
contrôle da fecundidade e da natalidade entre os jovens.
Ocorre, que as estratégias utilizadas pelos adolescentes para realizarem o ato sexual e
assim exporem-se ao risco de engravidar, superam tanto qualitativa quanto quantitativamente as
estratégias criadas pelos adultos para fazer com os jovens façam uso, com maior freqüência e
facilidade, das técnicas que impedem o acontecimento de uma gravidez.
Mediante uma observação mais apurada da situação, fica relativamente fácil constatar
que são os adultos que sexualizam e erotizam o ar que os adolescentes respiram. São os adultos
que, através das mais variadas estratégias, propiciam as condições necessárias para que
aconteçam os encontros sexuais e consequentemente os encontros entre os óvulos e os
espermatozóides dos adolescentes.
Em termos práticos: é muitíssimo mais fácil praticar o ato sexual dentro de um baile
funk, dentro da própria casa na ausência quase que constante dos pais, ou no contexto de uma
balada, do que evitá-lo ou praticá-lo “com segurança”, mediante o uso das técnicas de contrôle
da natalidade recomendadas, divulgadas e disponibilizadas estrategicamente pelos adultos para o
uso dos adolescentes.
Considerando que os adultos enxergam os adolescentes como humanos ainda inaptos para
arcar com as responsabilidades advindas do fato de relacionarem-se sexualmente e
engravidarem-se, e considerando que, enquanto adultos, não assumimos a total responsabilidade
pela erotização e sexualização do mundo e da existência dos adolescentes, colocamo-nos em uma
situação dominada pelas contradições e pela ambivalência. Assim posicionados, permanecemos
imobilizados e iludidos, apenas fazendo de conta que estamos tomando as providências cabíveis e
necessárias para por fim a um problema. Isto, ainda, sem chegarmos ao consenso definitivo de
que se trata de um problema a ser solucionado e erradicado.
Dizendo de modo amplo, sincero e honesto: nós, os adultos, perturbados, constrangidos e
existindo desde contradições, ambivalências e dúvidas, não conseguimos criar, nem tampouco
colocar em prática, as estratégias que se fazem necessárias para que os adolescentes não
pratiquem o ato sexual ou usem as técnicas de contrôle da natalidade disponíveis.
Para criar um clima propício para mais uma rodada de reflexões a respeito da gravidez
em adolescentes, a partir do pressuposto de que somos nós, os adultos, que temos de fazer a
nossa lição, no sentido da resolução da parte que nos toca nessa complexa circunstância,
realizarei, no próximo dia 24 de junho, entre as 19:30 e 22:00 horas, uma sessão das Terças
Femininas com o tema: como cuidarmos de nós e dos nossos filhos, para que eles não nos
transformem em avós precocemente.
Receberei no Espaço da Mulher, para conversar conosco instigadas por esse tema, a Sra
Mareny Moraes, coordenadora do Polo de Prevenção em Violência Doméstica da ASSA –
Assistência Social Santo Antônio, a Sra Denise Faccio, colaboradora das atividades do Polo de
Prevenção em Violência Doméstica da ASSA e a Sra Glícia Helena Mulinari Silva, Presidente da
Associação Vida Plena.
Nessa oportunidade serão exibidas cenas paradigmáticas do filme As Meninas, de Sandra
Werneck, que mostram as transformações das vidas de quatro jovens e quatro adultas, por conta
da ocorrência concomitante da adolescência e da gravidez. Convido a todos. A presença é
gratuita, motivo pelo qual solicito reserva de vaga pelo fone 4617-4993. Como o espaço comporta
apenas 50 pessoas confortavelmente instaladas, solicito respeitosa e encarecidamente, que as
pessoas que fizerem reserva de vaga efetivamente compareçam.
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