A GRATIDÃO, O CUIDADO E O AMOR

Eram três companheiros! A Gratidão, o Cuidado e o Amor!
Nem todo mundo sabe, mas a origem da palavra companheiro não é necessariamente uma questão politica-partidária! Companheiro vem do latin e tem um significado muito bonito, do latim companionem, que significa “alguém com quem comeria pão”, de con (com) e pan (pão).
Por isso, pra mim, companheiro tem um valor muito mais amplo do que o político! Chamo de companheiro/a a quem chamaria de irmão ou irmã!!
Mas queria falar um pouco sobre o dia de hoje e de ontem - literalmente!
Ontem foi meu aniversário, e este é o motivo desta postagem! Quero falar um pouco sobre meu sentimento de gratidão a todos os meus amigos... a todos meus companheiros e poder compartilhar um pouco do que sou com voces!

A GRATIDÃO

De onde vim, onde estou e pra onde acredito que vou, tenho muitos a agradecer... gostaria de poder neste momento, de todos cuidar, como não posso, então faço neste momento o que não depende de ter, nem de ser... basta querer... então eu quero oferecer a voces, meu amor!
Desde criança, sempre tive a vida pautada por desafios!
Logo depois de nascer, aos 6 meses de idade, fui internado...tive tuberculose, passei oito meses no Hospital do Mandaqui e tive alta para poder morrer em casa... mas o amor de minha mãe e meu pai, os cuidados de minha vó Pureza e de todos que me rodeavam, tanto clamaram a Deus, que Este não permitiu minha partida, a fé de minha família tem origem na fé do povo sertanejo, povo forte e que convivia com a morte, quase que com a intimidade perversa daqueles que não tendo forças para resistir - e ninguém tem - resignava-se a pedir a Deus, Nosso Senhor Jesus Cristo, a Virgem Maria e ao Padim Pade Ciço, para que este filho não fosse. E foi ai, que no pedido de minha mãe, eu sobrevivi! Tive poliomielite - mais conhecida como Paralisia Infantil, mas por razões que a razão desconhece, e só a fé explica tive uma sequela quase que imperceptível. Usei aparelho na perna e bota ortopédica... e hoje, estou aqui para agradecer!
Aos cinco anos de idade, fui atropelado por um fusca azul... nunca esqueci a cara de desespero do japonês que era um vizinho nosso e da carreira de minha mãe que estava lavando roupa num poço perto de casa! Sai vivo e depois do hospital com um monte de biscoito de waffel Mirabel... uma delícia... por muitos anos, senti falta de meu caminhãozinho de madeira e de minha cadeirinha que foi destroçada pela roda do fusquinha... poderia ter sido pior! |Alguns meses depois, no mesmo local, fui atropelado por uma moto... na verdade, foi eu quem atropelei a moto... é que tinha uma poça de lama e o espaço para passar ou eu e minha bicicleta ou a moto do Dé... o danado é que ele resolveu passar no mesmo lugar que eu... o prejuízo foi enorme... a bicicleta virou sucata! Se fosse hoje, com certeza teria sido socorrido pelo SAMU... não lembro quem me socorreu... deve ter sido o fusca!!
E assim fui levando a vida... de susto em susto... de milagre em milagre... dei muito trabalho para a fé de minha mãe... e ela para os Santos e Anjos!!
Uma infância com plenitude de alegrias... assim posso tranquilamente resumir toda a minha infância... uma mãe fantástica, guerreira e trabalhadora, um pai sábio, valente e de uma caridade santa! Um homem e uma mulher que a tantos acolheram dentro do seu teto, que a palavra mais adequada para identifica-los seria João Solidariedade e Maria Bondade!
Quando adolescente, aos 13 anos, minha família voltou definitivamente para o nordeste! Fui e fiquei por lá algo em torno de 6 meses! Voltei pra São Paulo e comecei a tocar minha vida... muitas foram as aventuras e desventuras, muitos foram os companheiros... muitas foram as noites com frio e fome... mas também muitas foram as alegrias, os dias sem fim de pureza e vontade de viver... muitos foram os conhecimentos... alguns que não recomendo pra ninguém, como por exemplo as drogas e o álcool e as consequencias das ruas!
Sempre que olho para um morador de rua, vejo também a possibilidade da vida... poucos são os que nascem na rua... a rua é processo de exclusão, de medos e depressões! A rua não é lugar de vagabundos como querem fazer crer alguns... a rua, enquanto espaço de moradia é consequencia de uma sociedade tão doente quanto os que acusam sem compreender o que leva uma pessoa a morar na rua!
Foi no grupo de Jovens JUPAS, com Padre Daniel Balzam e depois com Padre Luis Antonio, que consegui ter um novo norte para minha vida... tanta gente boa... tanta gente séria... foram tantos e tantas que me ajudaram que enumera-los seria impossível... Lucia Torrezani, Beto, Zé Carlos, Zé Maria, Padre Paulo Mercieca, Wanderley e Rosinha, todas as senhoras da Igreja de Nossa Senhora do Mont Serrat, Renato e Mariazinha, Pio e Dalva, tanta gente... gente que mais que recitar versículos da bíblia, me deram comida para matar minha fome... Giba, Ademir de Souza, Santo Siqueira, Angela, Paulo Mineiro, Irmã Terezinha, Irmã Terezinha Paloschi, e tantos outros, me deram outro alimento... com o corpo satisfeito, me deram formação e ensinaram a militância politica... Joelito, Fernando, Gaminha no movimento estudantil construiram as vitórias do passe escolar gratuito! Seo Nebel e Dona Lylian, Uruguaios, me formaram no conceito de vida... militantes comunistas perseguidos pela ditadura militar daquele pais, chegaram ao Brasil para reconstruirem suas vidas... e ajudaram a reconstruir também a minha! Pra mim, a partir do convívio com esta família que me trouxe mais dois irmãos, Laura e Ernesto, uma questão ficou superada... a caridade é vista por Deus como o único dos dons que permanecerá porque é o único sentimento pelo qual se consegue diferenciar o pratica entre o que se faz e o que se prega... uma pessoa até pode dizer, tenho fé...e não ter! Mas não pode dizer sou caridoso sem o ser! A caridade é vista, mesmo quando não é propagandeada... quando se precisa propagandear, não é caridade! É o dom que separa o bendito do maldito! E Dona Lylian e Seo Nebel, são profundamente benditos!!! Como esquecer do meu companheiro e irmão de caminhada, Ariosvaldo!
Sei o que é o frio da temperatura, do não ter uma blusa ou um cobertor e todos ou a maioria sabem... mas existe um frio pior, é o que dói na alma... é o frio da indiferença, da intolerância e do preconceito... tem gente que não acredita que existe alma... pois existe... é este frio e este desprezo que faz com que, depois que o corpo já não sente mais dor de tanta dor que sente, então, a alma começa a doer... é ai que se conhece Deus, ou se perde completamente o contato humano com Ele... é ai, que o ser humano para de ser humano e se iguala aos bichos! Não fica louco, transcende a isso, fica sem alma, pois este frio a maltrata tanto que faz com que este ser só possa ser acolhido pelo Criador... nenhum ser humano pode depois, recupera-lo! Cheguei muito perto disso!
Valorizar então o cuidado que tiveram comigo, me leva a segunda parte desta carta!

O CUIDADO!

Ser cuidado é ter o nobre sentimento de que alguém se preocupa com a gente... é saber que na hora da dor, do desespero e da solidão, alguém em algum lugar esta olhando por nós... e é este o cuidado que tive... o de receber o prato de comida no dia da fome... ter o par de sapato número 40 novinho, oferecido e servir no pé de tamanho 37 direitinho! Nada que um jornal não ajudasse!
Fui cuidado por toda uma Igreja... por gente que não era da Igreja... fui cuidado pelo meu povo... e se hoje sou representante deste povo, devo a ele retribuir... devo cuidar! Este é meu chamado, por esta razão, quando vi que desviavam verbas usando o nome de pessoas que sequer sabiam que eram funcionários do poder público, denunciei... e denunciaria de novo!
Cuidar é ter a preocupação que um Henrique e Nadir, tiveram... é ser acolhido por um Joaquim e Regina, é ganhar mais dois irmãos, Alex e Telma... É na hora do medo e da fuga poder ser acolhido! Não posso fazer outra coisa ao não ser retribuir a todos os que me rodeiam o mesmo cuidado que me proporcionaram! Este é meu chamado, é minha vocação e a ela digo: Sim!

E O AMOR

Aprendi que o amor não esta padronizado em uma receita... a diversidade do amor, esta na mesma proporção da capacidade humana e em suas diferenças... se Deus deu para cada ser humano um rosto e uma alma, ofereceu na mesma proporcionalidade no decorrer da história Seu amor de forma incondicional, absoluta e total a cada um dos que por aqui passaram... os que não crêem, não fazem por materializar o que é imaterial... o Reino é simples como o amor... Compreender o amor é compreender o projeto de Deus para a humanidade... desde o primeiro homo sapiens, desde o primeiro conceito sobre Deus, desde a descoberta ainda inacabada desta relação tão bela entre o Espírito de Deus e sua criação, o amor é a única certeza que nos diferencia de todo o restante da criação! Como explicar o amor de uma mãe por um filho ? Como explicar a superação da perda de um ente querido ? Como confortar um coração perdido e solitário ? Eu não sei, mas Deus sabe! E Ele sempre nos diz... para todas as respostas, amor! Foi este amor que me libertou... é este amor que me anima e é este amor que agradeço! É este amor que devolvo!
É o amor o que conheci na luta dos Sem Terra, na vida dura dos sindicalistas, na lida diária dos religiosos! Foi o amor que se derramou na forma de sangue de tantos e tantas companheiras de caminhada que foram parados na estupidez de algumas gramas de chumbo... eles podem até matar o corpo... mas não conseguem demover a ideia, o sonho e a esperança dos pobres! Jamais conseguirão apagar o amor das mães dos presidiários. Só o amor é capaz de aplacar a dor dos que perdem os seus pela violência estúpida dos traficantes e de suas vítimas, sejam usuários, sejam as vitimas, pais, filhos e avós que tombam nas mãos da covardia do assalto e de todas as formas de violência! Seja ela praticada por quem seja! Para combater esta violência só há um antídoto... o AMOR!
Hoje é dia 10 de Dezembro... dia dos Direitos Humanos... o amor explica!